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sexta-feira, 6 de abril de 2012

ARTIGO DA CONFREIRA ALESSANDRA LELES ROCHA


Degustando sal; tosquiando ovelhas!
                         Por Alessandra Leles Rocha

Sob efeito da gigantesca nuvem de poeira que se instalou após a mais nova crise ética no Senado da República, em meio aos fragmentos noticiados pela mídia o cidadão vai colocando as ideias em ordem e se deparando com a profundidade abissal dos fatos.

Por detrás da expressão “lobo em pele de cordeiro”, a verdade é que estamos diante da materialização da mais completa inversão de valores. A lisura, o bom senso, o respeito, a dignidade, e tantos outros adjetivos a compor o lastro da ética e da moral, os quais deveriam estar continuamente presentes no cotidiano da sociedade, já se sabe a bom tempo, aqui e ali, considerados obsoletos e em desuso por boa parcela da população brasileira. Infelizmente, tornaram-se “exceção” ao contrário de regra trivial da sociedade.

Então, de repente (não mais que de repente) vestir-se desses elementos pode deixar qualquer um “acima de quaisquer suspeitas”. Ao hastear a bandeira desses valores e se inflamar no discurso retórico e combativo, o indivíduo se destaca com um “grande diferencial” e encobre sutilmente as ranhuras e deslizes de sua própria conduta. Quem iria dizer não é mesmo? Essa foi a pergunta que não quis calar desde então.

Ora, ora! Mas um lobo é sempre um lobo; não há o que lhe possa esconder a verdadeira essência. Não há verniz que seja capaz de desaparecer com todas as imperfeições. Como costumeiramente se diz, “não há crime perfeito”. Na medida em que o ser humano não vive só, está sempre rodeado direta ou indiretamente por seus pares, a vida se entrelaça num emaranhado novelo que faz com que uns sejam “testemunhas” dos outros. Em algum momento as atitudes tomadas podem se tornar uma “mancha” difícil de ser retirada. Já parou para pensar com quantas pessoas você conversou ao logo de um dia? E quantas você apenas viu (e de algum modo viram você também)? Por quantos lugares você passou? Sobre quais assuntos você conversou? Opinou mais ou de menos? Concordou ou discordou? É! Não somos tão imperceptíveis, ou invisíveis, como gostaríamos, ou poderíamos, supor!

Por certo, ninguém conhece ninguém em profundidade. Nem mesmo o próprio indivíduo conhece a si mesmo até que lhe apertem os calos. Mas, até então, tínhamos uma mensuração de valor a partir do arcabouço comportamental e da ideologia defendida pelas pessoas. Certamente, uma apuração de resultado bastante inconsistente, frágil e questionável; mas, ainda sim, a mais usual entre as pessoas. Pois é, ledo engano meus caros! Há mais lobos em pele de cordeiro do que imaginávamos! Só que agora eles estão hábeis em se vestir de “bons moços” e fazer figuração no segmento que anda tão “démodé” e restrito. Em meio às divagações dessa história toda, fico pensando como enfrentará esse novo “it” o pessoal de recursos humanos, caso a prática se estenda como rastilho de pólvora. Afinal, como saber se aquele pretenso candidato é realmente o que diz e aparenta ser? Quais as ferramentas de seleção poderão ser de fato eficazes para “separar o joio do trigo”?

Dizia minha bisavó, no alto de sua sabedoria, que só se conhecia alguém em profundidade após juntos compartilharem a degustação de um saco de sal. Tarefa difícil, não é mesmo?! Por isso, um bom teste; porque, um saco de sal demora muito tempo para acabar e enquanto isso, milhões de fatos acontecem e as pessoas se revelam e se transformam. Assim, sem muito esforço, deixando apenas o tempo correr no seu ritmo natural e a vida falar por si, usando da boa observação e interpretação das “entrelinhas” quem sabe não se chega a um novo jeito de tosquiar cordeiros, hein?!